Mombojó

 

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A música pernambucana precisava do choque de realidade que Chico Science e os primeiros mangue boys deram quando anunciaram a modernização na marra daquele velho Recife do fim do século 20. Não foi apenas a movimentação de duas bandas (Nação Zumbi e Mundo Livre S/A), mas todo um momento de revalorização da auto-estima de duas ou três gerações diferentes, que se manifestaram de formas muito mais amplas do que simplesmente musical. A renascença pernambucana que reposicionou Recife no mapa cultural do imaginário brasileiro não partiu de uma simples ebulição cultural da cidade, mas de uma vontade artística que vinha sendo esmagada paulatinamente, desde o início da ditadura militar no Brasil, e que encontrou no manifesto Caranguejos com Cérebro o gatilho perfeito para extravasar todo seu potencial.

Assistiu-se, portanto, durante a última década do século 20, um desaguar de produção que parecia lavar a alma de uma cidade disposta a colocar-se no mapa como um dos principais centros urbanos – e, assim, artístico e cultural – do país. Uma década de novas bandas, novos produtores, novos cineastas, novos músicos, novos intérpretes e novos agentes culturais que reinventaram Recife como uma cidade autossuficiente, moderna e madura.

O Mombojó apareceu dez anos depois do surgimento do mangue beat como fruto desta nova mentalidade recifense. Não havia mais necessidade de fazer referências às raízes nordestinas, à cultura pernambucana, ao caboclo de lança ou aos maracatus. Da mesma forma, não era mais preciso apontar para o futuro, para a iminência do digital, para o novo da música eletrônica, para a reinvenção rítmica do hip hop. O Mombojó surgia como o cidadão perfeito da utopia imaginada por Chico Science no início dos anos 1990. Mas isso não significava um futuro pleno adiante.

Como principal representante de uma nova geração da música pernambucana, o Mombojó também passou por provações à altura das que afligiram a geração anterior. Foram hypados e abraçados pela crítica, criaram uma boa base de fãs usando a internet ao mesmo e tocaram nos principais festivais do Brasil, lançando discos sempre elogiados, mas passaram por situações inesperadas e até trágicas – como no caso da morte do flautista, trombonista e violonista O Rafa, em julho de 2007, e a subsequente saída de Marcelo Campelo em 2008. Os altos e baixos dos primeiros dez anos do Mombojó também marcam a transformação da banda do status de nova aposta à condição de protagonista da atual cena pernambucana.

11º Aniversario, o quarto e mais recente disco da banda, é uma espécie de balanço desta primeira década à luz de duas gerações de reinvenção reinvenção artística em Pernambuco. No novo disco, o Mombojó revisita músicas de seus três primeiros álbuns (Nadadenovo de 2004, Homem Espuma de 2006 e Amigo do Tempo de 2010) para criar uma espécie de manifesto sobre esta nova maturidade recifense, celebrando-se sem a necessidade nem sequer de uma data redonda.

“Vazio e Momento”, a penúltima música do segundo disco da banda, Homem-Espuma, é escolhida para reiniciar a visita ao passado moderno da banda e dá o tom de como as músicas foram recriadas para o novo disco: perdeu metais e peso de guitarras para ganhar sutilezas eletrônicas e um canto em falsete que realça a beleza do vocal de Felipe S., um dos melhores do Recife. O teclado de Chiquinho Moreira conversa com a guitarra de Marcelo Machado, um diálogo construído sobre a cozinha firme criada com o baixo de Samuel – que a partir deste disco diminui sua participação na banda, encerrando outro ciclo – e a bateria de Vicente Machado.

Aos poucos recebem convidados que estiveram a seu lado nestes 10 anos: Ígor Medeiros, produtor de Nadadenovo, reúne-se ao novo Mombojó para reinventar “Faaca”. “Realismo Convincente”, de Homem-Espuma, recebe a presença de Cannibal, líder da banda de hardcore Devotos e do projeto de dub Café Preto. “Estático” conta com a participação do velho compadre do Mombojó China e seu irmão Ximaru, ambos ex-Sheik Tosado, um grupo crucial na história da transição da geração Chico Science para a seguinte. O pianista Vítor Araújo, outro contemporâneo, invade “Baú”, do primeiro disco e o álbum termina com a Nação Zumbi recriando “Justamente”, numa versão que consagra este primeiro capítulo da biografia do Mombojó.

O disco foi gravado praticamente ao vivo, durante pouco mais de duas semanas, com produção assinada pela banda e o técnico de som Rodrigo Sanches (que já havia produzido o terceiro disco da banda, Amigo do Tempo, e trabalhado ao lado de nomes Cansei de Ser Sexy, Max de Castro e Madrid). E marca o fim de uma era em que Recife não é mais simplesmente Abril Pro Rock, Cumade Fulôzinha e Fred Zeroquatro e mas também Coquetel Molotov, Karina Buhr e A Banda de Joseph Tourton. O chão já não é um pântano e é possível andar aprumado.

* Alexandre Matias é jornalista, editor do caderno Link do jornal O Estado de S. Paulo e dono do site Trabalho Sujo

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